Inadimplência das famílias com recursos livres volta a subir. A concessão de crédito continua em elevação, não apenas pela base fraca, como também pelo fato da inadimplência das famílias estar em níveis historicamente baixos
O ciclo de alta na taxa básica de juros, a Selic, que iniciou o ano em 2,00% e agora marca 5,25%, já há algum tempo tem pressionado para cima as taxas de juros finais para as empresas. A composição dos juros às pessoas jurídicas tem uma participação maior das taxas de captação (influenciadas pela Selic), ao contrário do que acontece com os juros para as pessoas físicas, fortemente influenciados pelo spread bancário. O custo do crédito livre para as empresas subiu de 14,5% em junho para 15,4% em julho, e havia iniciado o ano em 11,6%. Já para as famílias, a taxa iniciou o ano em 37,2% e hoje marca 39,8%, apesar de ter chegado a 41,4% em abril. O spread bancário cobrado das famílias iniciou o ano em 32,11 pontos percentuais e hoje está num nível um pouco maior, de 32,25, depois de três quedas consecutivas, dado que, em abril, o spread era de 34,41 pontos percentuais.
A inadimplência das famílias voltou a subir, de 4,03% em junho para 4,1% em julho, revertendo a queda divulgada um mês antes, em linha com a variação do indicador de Registros de Inadimplentes da Boa Vista, empresa parceira de negócios da CDL POA, que havia apontado alta de 2,1% na comparação mensal dos dados dessazonalizados entre os meses de julho e junho. Na avaliação dos economistas da Boa Vista, a queda registrada em junho foi temporária e a tendência é de que a taxa continue subido ao longo dos próximos meses, uma vez que a inflação, em 2021 – e talvez até em 2022 –, não deve ceder facilmente, a taxa de juros deve continuar subindo e o mercado de trabalho, até aqui, não trouxe nenhum dado capaz de reverter essa tendência. Além disso, o comprometimento dos orçamentos familiares com o pagamento de dívidas continua em patamares elevados.
A concessão de recursos livres às famílias continua em alta. Na variação acumulada em 12 meses, o crescimento passou de 8,21% para 11,29% em julho, após alta de 26,7% na comparação interanual. O resultado foi antecipado pelo indicador de Demanda por Crédito da Boa Vista, que na mesma base de comparação anterior havia registrado alta, também de 26,7% no segmento “Financeiro”. Em 12 meses acumulados, ambos também se mantiveram bem aderentes e o indicador da Boa Vista aponta um crescimento levemente maior, de 11,4%.