Como o crédito e as vendas do comércio estão relacionados?
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AGOSTO, 2018
Notícias
Além da renda real e da confiança do consumidor, existe um terceiro vetor relevante para explicar as vendas do varejo: o crédito. A oferta de recursos voltada aos empréstimos é fundamental para financiar a aquisição de bens, principalmente os de maior valor. Quanto mais facilitadas são as condições (juros, prazos, carências, entre outras características), mais elevada tende a ser a atividade do comércio.
O gráfico abaixo mostra a evolução do saldo das operações de crédito destinadas às pessoas físicas no Rio Grande do Sul desde dezembro de 2004. A alta ininterrupta até 2014 é um dos fatores que ajuda a explicar o ótimo desempenho do varejo gaúcho nesse ínterim. Para se ter uma ideia, o volume de vendas do comércio do RS no conceito ampliado avançou 69,3% ao todo, o que representa um crescimento médio acima da inflação de 4,9% ao ano. Mesmo após a superação das crises política e econômica de 2015/2016, o saldo de crédito no RS vem apresentando baixo dinamismo nos últimos meses.
Saldo das operações de crédito para as pessoas físicas no RS
(Em R$ tri deflacionados pelo IPCA até julho de 2018 – acumulado em 12 meses)

Fonte: Banco Central do Brasil e IBGE. Elaboração: AE/CDL POA.
Além da inflação sob controle, a atual conjuntura é marcada pelo patamar mais baixo da Taxa SELIC (referência para as operações de crédito junto às pessoas físicas e jurídicas) da história da economia brasileira. No entanto, muitas pessoas não entendem o porquê os juros não estão caindo na ponta, o que ajudaria o crédito a deslanchar. Alguns dos motivos que atuam para estrangular o canal do crédito podem ser vistos na Pesquisa de Estabilidade Financeira, do Banco Central.
Resultados da Pesquisa de Estabilidade Financeira (PEF)*
(Em % das respostas)

Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração: AE/CDL POA. *Soma dos percentuais ultrapassa 100% por conta da possibilidade de múltiplas respostas.
São pelo menos 4 riscos relevantes. O político diz respeito às incertezas com as eleições de outubro. Por sua vez, a inadimplência e a recessão diminuíram de importância nos últimos meses, em linha com a retomada modesta da economia, mas ainda são relevantes. Já os riscos fiscais, caso não sejam endereçados, podem gerar grandes desequilíbrios na economia brasileira: alta de impostos, maior inflação e/ou juros mais elevados. Por fim, o cenário internacional se tornou mais complexo, com juros mais altos no exterior, guerras comerciais, conflitos geopolíticos e dificuldades vivenciadas por alguns países emergentes, como Argentina e Turquia, que acabam afetando negativamente o Brasil. Resolver essas questões, portanto, é fundamental para destravar o crédito, o que traria reflexos positivos para o comércio.
*Conteúdo exclusivo – Oscar Frank, economista-chefe da CDL POA
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