O Indicador de Inadimplência da CDL Porto Alegre, elaborado pelo Núcleo Econômico a partir da base de dados da Equifax | Boa Vista, registrou novas máximas históricas em novembro de 2025. Entre as pessoas físicas, o índice alcançou 35,96% no Rio Grande do Sul e 36,72% em Porto Alegre, renovando os maiores níveis desde o início da série histórica em fevereiro de 2022. Em relação a outubro, as taxas avançaram 0,17 e 0,13 ponto percentual, respectivamente. As estimativas equivalem a 3,084 milhões de CPFs negativados no Estado, sendo 394.726 na Capital.
De acordo com o economista-chefe da CDL POA, Oscar Frank, a elevação praticamente contínua da inadimplência reflete um ambiente econômico desafiador. A manutenção da Taxa Selic em 15% ao ano, no maior patamar desde 2006, reforça esse quadro ao encarecer o custo do crédito. “Estamos diante de um cenário em que os efeitos da política monetária geram elevado comprometimento dos orçamentos familiares com o serviço da dívida (juros e amortizações, de modo que o indicador do Banco Central bateu recorte histórico no país. Apesar da queda esperada dos juros básicos ao longo de 2026, o impacto sobre a inadimplência ocorrerá de forma defasada, levando entre nove a 12 meses até sua materialização plena”, explica Frank.
O economista ressalta ainda outros vetores conjunturais ajudam a explicar a tendência de crescimento. “A ampliação do consignado para trabalhadores da iniciativa privada, combinada aos custos altos e ao acesso facilitado, contribui para problemas severos de fluxo de caixa quando os recursos são mal utilizados. Além disso, a estimativa é de que o volume gasto em apostas online sofreu aumento relevante em 2025, prejudicando a capacidade de honrar compromissos financeiros em dia, especialmente entre os mais vulneráveis. Por fim, a falta de conhecimentos básicos de educação financeira — um gargalo estrutural no Brasil — potencializa o desequilíbrio”, observa.
Inadimplência nas empresas
Entre as pessoas jurídicas, o Indicador de Inadimplência da CDL POA também renovou máximas históricas. As taxas chegaram a 17% no Rio Grande do Sul e 17,82% em Porto Alegre, após acréscimos mensais de 0,28 e 0,34 ponto percentual, respectivamente. Foi o quinto avanço consecutivo nas duas regiões. Segundo o cruzamento com o Mapa das Empresas do Governo Federal, são 270.120 CNPJs negativados no Estado e 45.799 na Capital.
Frank destaca que a conjuntura econômica do Rio Grande do Sul segue pressionando o ambiente empresarial. “O Estado enfrenta um ciclo prolongado de fragilidade, resultado das estiagens recorrentes desde 2020, das enchentes de 2024 e de fatores externos, como a sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos a diversas mercadorias. Desde o fim de 2019, enquanto o PIB do Brasil avançou 13%, o do RS cresceu apenas 4,5% até o segundo trimestre de 2025. Isso reduz a competitividade e dificulta a geração de caixa das empresas, elevando a probabilidade de atrasos financeiros”, avalia.
Segundo o economista, a melhora deverá ocorrer apenas ao longo de 2026. “A deflação recente no atacado ajuda a aliviar custos produtivos, mas a recuperação será gradual. Ainda que o ciclo de queda da SELIC esteja previsto para o início de 2026, a reversão da inadimplência não será imediata, dada a defasagem típica da política monetária”, conclui.
Sobre o indicador
O Indicador de Inadimplência da CDL POA é elaborado pelo Núcleo Econômico da Entidade com o objetivo de medir mensalmente a inadimplência dos consumidores e das empresas do Rio Grande do Sul e de Porto Alegre, utilizando a maior base de dados restritivos do Estado, fornecida pela Equifax | Boa Vista. O levantamento de pessoas físicas teve início em fevereiro de 2022 e avalia a proporção de adultos com restrição em crédito, cheque ou protesto. Para pessoas jurídicas, considera-se a parcela de empresas com restrição em crédito, cheque, protesto ou ação judicial.
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