O Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou recentemente suas previsões atualizadas para uma série de variáveis econômicas relevantes. Tanto o cenário quanto os números em si contribuem para mapear as possibilidades envolvendo o futuro e, consequentemente, para qualificar a tomada de decisão de forma ampla. A estimativa para o PIB global em 2025 sofreu a segunda revisão consecutiva para cima (passando de +2,8% para +3,0% entre abril e julho e de +3,0% até atingir os +3,2% de momento). No entanto, o desempenho não só é pior do que o constatado em 2024 (+3,3%), como também é inferior à média verificada no pré-pandemia, entre 2000 e 2019 (+3,7% ao ano).
O progresso ocorreu em virtude do impacto aquém do esperado do choque protecionista liderado pelos EUA. Nesse sentido, diversos vetores atenuaram os efeitos para o nível de atividade, incluindo: (1) o adiantamento das compras pelos agentes; (2) a diminuição das margens dos ofertantes e dos demandantes proporcionada pela inflação gerada pelo surto de COVID-19; (3) o enfraquecimento do dólar; (4) a opção de grande fatia dos parceiros em não promover retaliações; e (5) os acordos comerciais firmados.
Contudo, a perspectiva para 2026 é de desaceleração para +3,1% – sem mudanças ante a edição anterior. Em primeiro lugar, a tarifa média de importação americana permanece muito elevada: conforme a Universidade de Yale (The Budget Lab), houve um salto de 2,4% em janeiro para os 17,9% vigentes, o que representa incremento que ultrapassa sete vezes o patamar do início do ano. Ademais, a incerteza segue expressiva, de modo que não existe garantia de que os pactos entre os países a respeito dos parâmetros que balizam as transações sejam sustentáveis.
Os Estados Unidos devem avançar +2,0% em 2025 e +2,1% em 2026, ou seja, consideravelmente menos em comparação a 2023 e 2024, quando o ritmo ficou perto de +3,0%. Todavia, as estatísticas são um pouco maiores do que as apresentadas em julho. Fatores como a redução da alíquota média para a entrada de produtos (a máxima bateu 28% em abril), o impulso fiscal significativo aprovado junto ao Congresso, cujo prognóstico é de aumento do déficit em mais de US$ 3 trilhões ao longo de uma década, e o ciclo de queda de juros foram mencionados como justificativas.
Por sua vez, o PIB da Zona do Euro alcançará +1,2% em 2025 (+0,2 ponto percentual) e +1,1% em 2026 (-0,1 ponto percentual). A imprevisibilidade política e comercial é apenas parcialmente compensada pela recuperação do consumo das famílias, calcada nos ganhos reais dos salários dos trabalhadores, e pelo programa de expansão de gastos públicos da Alemanha. Já a China tende a galgar +4,8% em 2025 e +4,2% em 2026. A antecipação de negócios, a triangulação bem-sucedida com nações próximas e a procura doméstica relativamente forte por causa de medidas de suporte governamentais explicam o movimento positivo nos últimos trimestres no confronto com o quadro traçado em abril.
Por fim, a expectativa para o Brasil subiu de +2,3% para +2,4%, enquanto para 2026 caiu de +2,1% para +1,9%. O recuo antevisto para o ano que vem decorre, em parte, da majoração das alíquotas dos EUA enfrentadas pelos fabricantes nacionais. Porém, ambos os valores superam o consenso entre os analistas de mercado do Relatório FOCUS, do Banco Central (+2,17% e +1,80%), datado de 17/10.
Logo, embora melhor do que se poderia imaginar há alguns meses, o panorama continua bastante desafiador. A perda de tração do crescimento mundial é uma das razões que ajuda a contextualizar o arrefecimento do PIB do Brasil para 2026, além dos indícios de não repetição das condições para outra supersafra de grãos como em 2025.