As medidas protecionistas dos Estados Unidos voltadas ao Brasil ganharam novos contornos recentemente. Além da breve postergação acerca da data de entrada em vigor (de 1º para 6 de agosto), 694 artigos receberam isenções, de modo que em vez da sobretaxa de importação de 50%, a alíquota aplicada continuará sendo de 10%. Resta, então, tentar compreender como os parâmetros atualizados repercutirão sobre a economia.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), pouco menos da metade (44,6%) do valor exportado figura na lista de exceções. No que se refere ao impacto para o PIB, o intervalo das estimativas é amplo, variando entre -0,13 e -0,6 ponto percentual, porém os números concentram-se em torno de -0,2 ponto percentual ao longo de um ano. Do ponto de vista do emprego, as projeções da FIEMG evidenciam que 146 mil postos estarão sob ameaça em um horizonte de 24 meses.
É fundamental lembrar que os prognósticos apresentam uma margem de incerteza expressiva. Temos fatores que podem servir de atenuantes, como, por exemplo, o eventual redirecionamento dos produtos para diferentes países. Todavia, o processo de conquista de credibilidade não é trivial, pois cada mercado exige suas demandas em termos de características dos bens ou até mesmo das condições financeiras para a concretização da transação. A possibilidade de triangulação (embarcar para algum vizinho da América do Sul e, a partir daí, para os EUA) também está no radar da taxação, conforme manifestações das autoridades americanas. Outro aspecto diz respeito às chamadas políticas anticíclicas do poder público, com foco em crédito subsidiado e preservação de vínculos de trabalho, como o pagamento de parte dos salários. Os gastos não devem ficar sujeitos às regras fiscais dada a excepcionalidade do momento.
No entanto, cabe ressaltar que as regiões do território nacional percebem o choque de forma distinta, com base no tipo de relação estabelecida com os EUA. Nesse sentido, importantes Unidades da Federação, com destaque para o Rio de Janeiro e São Paulo, contam com 68% e 44%, respectivamente, da sua pauta sem o custo adicional de 40%, de acordo com o levantamento da Tendências Consultoria. Já os estados do Sul foram proporcionalmente mais prejudicados, com apenas 15% das vendas externas do Rio Grande do Sul desoneradas. A expectativa é de que os setores gaúchos mais afetados sejam o de armas e munições, máquinas e materiais elétricos, calçados, tabaco, madeira, tratores e móveis. O contexto preocupa em função do conjunto de problemas climáticos (sequência de estiagens e a enchente de 2024) que atuaram na contenção do nosso crescimento desde 2020.
Entendemos que a diplomacia, especialmente nas situações de tensão, é a melhor alternativa para abrandar as consequências negativas. Precisamos, ademais, pensar em estratégias para firmar acordos que reduzam burocracias e tarifas, principalmente com nações consumidoras relevantes, através de agendas de integração comercial que estiveram praticamente paradas nas últimas décadas, com o objetivo de gerar maior previsibilidade e diversificação para o ramo empreendedor.