Destaques Econômicos CDL POA - CDL POA

Destaques Econômicos CDL POA

Relatório FOCUS: as últimas previsões para a economia brasileira

Projeções para o Brasil*
(Unidades: descritas na tabela)

Fonte: Banco Central do Brasil / Relatório FOCUS (10/01/2025). *Mediana. Elaboração: AE/CDL POA.

A semana passada ficou marcada pela revelação de uma série de indicadores para o Brasil. Conforme o IBGE, o IPCA de dezembro exibiu dinâmica semelhante em relação à prévia (IPCA-15). Por um lado, o índice cheio (+0,52%) veio abaixo do consenso entre os especialistas sondados pela Reuters (+0,57%) graças principalmente ao avanço menor do que o aguardado nos alimentos in natura. Por outro, os chamados aspectos qualitativos – recortes que excluem componentes tipicamente voláteis – continuaram em franca ascensão.

Consequentemente, o IPCA fechou 2024 em 4,83%, extrapolando, portanto, a tolerância máxima de 4,5%. Em carta aberta do Presidente do BC, Gabriel Galípolo, ao Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, três razões fundamentais justificaram o estouro da meta: (1) forte crescimento do PIB, que deve registrar expansão de cerca de +3,5%; (2) depreciação cambial significativa (em torno de 28%); (3) clima adverso, reverberando diretamente sobre os alimentos.

Além disso, o IBGE divulgou os resultados de alguns dos seus termômetros setoriais em novembro, incluindo o volume de bens ofertados pela indústria e as vendas do comércio varejista. Em ambos os casos, as evidências corroboram com um cenário de desaquecimento do nível de atividade no quarto trimestre de 2024.

No que se refere ao panorama internacional, destaque para o payroll (importante levantamento a respeito do mercado de trabalho formal americano) de dezembro. O saldo entre admitidos e desligados com carteira assinada atingiu 256 mil, superando, e muito, a mediana das estimativas coletadas pela Bloomberg (+165 mil). Ademais, a taxa de desocupação caiu de 4,2% para 4,1%. Apesar do aumento dos salários na comparação com novembro (+0,3%) em linha com as expectativas, as estatísticas confirmam a robustez do emprego, trazendo desafios para a autoridade monetária. Por sua vez, a ata da última reunião do FOMC (Comitê responsável pelo estabelecimento dos juros nos EUA) reforçou o tom duro apresentado no comunicado da decisão de dezembro, citando a deterioração do processo de preservação do poder de compra da moeda.

De uma maneira geral, os analistas preveem a desaceleração do PIB em 2025 por conta: (1) da ausência de impulsos externos (2) da elevação do IPCA; e (3) da alta da Taxa SELIC ante 2024. O encarecimento dos artigos importados, o efeito dos contratos que farão a reposição automática das perdas com a inflação em virtude do maior número herdado de 2024 e a perspectiva de que os riscos fiscais sigam no radar constituem fatores de pressão para o IPCA. Em contrapartida, espera-se certo arrefecimento da produção e que a safra de grãos positiva de grãos atue na contenção dos valores dos itens da agropecuária.

Avaliação do PIB do 3º trimestre de 2024 do Rio Grande do Sul

O PIB do Rio Grande do Sul registrou queda de 0,3% entre o 2º e o 3º trimestre de 2024 na série com ajuste sazonal. Trata-se de um novo declínio nessa métrica, pois a leitura anterior, relativa ao intervalo entre abril e junho (no auge das enchentes que atingiram o território gaúcho), apresentou recuo de 0,2%.

De acordo com a abertura pela ótica da oferta, a agropecuária encolheu 30,6%. A retração é consistente com a natural acomodação depois da contabilização dos efeitos da safra positiva de grãos de verão, responsável pela elevação da base de comparação.

Por sua vez, a indústria (+1,1%) e, principalmente, os serviços (+2,3%) exibiram avanços expressivos. Entendemos que o fenômeno reflete a retomada de diferentes segmentos a partir do amplo conjunto de recursos direcionados para o enfrentamento da crise climática. Além disso, as evidências corroboram com o cenário de robustez do emprego, de modo que a taxa de desocupação passou de 5,9% para 5,1%. Outro aspecto que colaborou para o desempenho foi a própria expansão do PIB do Brasil no período (+0,9%).

Especificamente a respeito do setor terciário e do comércio (+3,9%), julgamos que alguns fatores atuaram para explicar as altas. Em primeiro lugar, tivemos uma quantidade significativa de liquidez (dinheiro) injetada junto às famílias, como o pagamento de auxílios, a antecipação de benefícios sociais e a concessão de carências para determinadas contas e impostos. Ademais, os rendimentos do trabalho não só continuaram subindo acima da inflação, como a renda de maneira geral acabou sendo complementada pelo impulso do governo federal no sentido de estimular a demanda, incluindo a política de ganho real do Salário Mínimo. Também vale ressaltar a diminuição dos gargalos à mobilidade (embora muitos ainda permanecessem até o final de setembro, como o fechamento do Salgado Filho), dado que a dinâmica de diversas categorias depende de fluxos da população. No que tange ao varejo, a busca por bens essenciais se somou à necessidade de recomposição do patrimônio perdido, favorecendo, em especial, móveis, eletrodomésticos, materiais de construção e veículos.

Apesar da baixa observada no confronto com a janela imediatamente precedente, o PIB total mostra crescimento nos horizontes longos, como o acumulado do ano (+5,2%) e nos últimos 12 meses (+3,7%). É fundamental lembrar que vínhamos de dois anos ruins em 2022 e 2023 por conta de graves estiagens. A boa safra e o impacto limitado das inundações para o campo, o processo de reconstrução e a manutenção da alíquota de ICMS em 17% exerceram parcela de importância para que o aumento provavelmente ultrapasse +4,0% em 2024, enquanto a estimativa para a média nacional é de cerca de +3,5%.

PIB do Rio Grande do Sul
(Var. %)

Fonte: Departamento de Economia e Estatística (DEE), vinculado à Secretaria de Planejamento do RS. *Série com ajuste sazonal. Elaboração: AE/CDL POA.

Avaliação do IPCA de dezembro de 2024

Observações gerais:

→ O IPCA avançou +0,52% em dezembro;

•  Estatística ficou abaixo do consenso entre as estimativas obtido pela Reuters (+0,57%);

→ No entanto, o acumulado do ano de 2024 totalizou +4,83%;

•  O resultado não só ultrapassou o limite máximo definido pelo Regime de Metas (+4,50%) como também excedeu a variação de 2023 (+4,62%);

Por que o IPCA acelerou em comparação com 2023?

1) Clima desfavorável: o efeito das secas em diversas partes do território nacional reverberou diretamente nos Alimentos e Bebidas (+7,69%);

2) Estímulos à demanda / mercado de trabalho robusto: o Governo Federal seguiu incentivando o consumo, através, por exemplo, da alta real para o Salário Mínimo. Tal fato acaba por impactar os desembolsos com os benefícios sociais. Ademais, a taxa de desocupação diminuiu de forma praticamente contínua ao longo do ano até atingir o menor número da história no trimestre móvel encerrado em novembro (6,1%);

3) Desvalorização cambial: o Real caiu aproximadamente 28% contra o Dólar em 2024. O fenômeno pode ser atribuído tanto a causas internacionais quanto domésticas. No tocante à primeira, destaque para a resiliência exibida pela economia americana, que deve gerar cortes mais suaves de juros do que o imaginado, além da provável adoção de medidas por Donald Trump que mantenham a inflação pressionada nos EUA. Já no que se refere à segunda, os riscos fiscais prevaleceram;

4) Aumento das expectativas para o IPCA: as incertezas com as contas públicas e o cenário externo foram determinantes para que as projeções em todos os horizontes disponíveis subissem notavelmente, de acordo com o Relatório FOCUS. Em contextos como esse, os agentes modificam seu comportamento hoje, exigindo correções superiores nas negociações de preços e salários.

Apesar da surpresa positiva relativa à prévia (IPCA-15) e ao índice cheio melhores do que o aguardado em dezembro, a situação continua inspirando cautela. As chamadas aberturas qualitativas (recortes mais sensíveis aos ciclos de expansão e contração da produção e do emprego) estão rodando em patamares elevados: +8,4% no caso dos serviços subjacentes considerando a média móvel trimestral entre outubro e dezembro dos dados com ajuste sazonal em ritmo anualizado (tendência de curto prazo).

Os desdobramentos da depreciação cambial sobre o IPCA, os contratos que farão a reposição parcial das perdas do poder de compra da moeda em 2024 e a perspectiva de que a ociosidade permaneça deprimida (embora se espere um quadro de desaquecimento para o PIB em 2025) representam desafios. Por outro lado, a utilização de uma política monetária que restringirá ainda mais o nível de atividade e a safra de grãos benigna são aspectos que atuarão para evitar uma dinâmica pior. Nosso prognóstico atual para 2025 é de 5,3%.

Data

15 janeiro 2025

Compartilhe

Icone de telefone

Ligue e descubra a solução ideal para a sua empresa

51 3017 8000

Capitais e regiões metropolitanas
De segunda a sexta , das 9h às 18h.