O FMI revisita periodicamente suas expectativas para a economia global. As análises ajudam a mapear cenários com relação aos próximos meses e anos, de modo que a edição divulgada no encerramento de janeiro atualizou as previsões em comparação com o levantamento de outubro de 2023.
Conforme a publicação, o prognóstico para o PIB mundial de 2024 saiu de 2,9% para 3,1%. Entre as razões que justificam essa correção está a surpreendente robustez do crescimento nos Estados Unidos e em diversos emergentes, principalmente ao longo do 2º semestre de 2023. Além do suporte estatal, os gastos das famílias exerceram influência positiva, alavancados pelas taxas de desemprego em patamares deprimidos e pelo uso da poupança formada pelos agentes durante o distanciamento social. O lado da oferta também teve sua parcela de contribuição, a partir do aumento da chamada taxa de participação – percentual da população que integra a força de trabalho – e da resolução dos problemas na cadeia de insumos e suprimentos. Outro fator envolveu o conjunto de medidas fiscais adotadas pela China.
No entanto, a taxa de expansão da produção deve permanecer bem inferior no confronto com a era pré-pandemia: média de 3,8% ao ano entre 2000 e 2019. A diferença é explicada em virtude: (1) da manutenção de taxas de juros elevadas; (2) da retirada de incentivos que favoreceram a recuperação depois da eclosão da COVID-19; (3) das pressões decorrentes do endividamento público. Da mesma forma, o ganho aguardado para o volume de transações de bens e serviços (+3,3%) ficará aquém do padrão histórico de +4,9% ao ano, graças à fragmentação entre os países. De acordo com o Fundo, as restrições inéditas ao comércio alcançaram cerca de 3.000 em 2023 – número praticamente três vezes superior ao de 2019 (1.100).
No que tange ao Brasil, houve uma revisão na estimativa para o PIB em 2024 de +0,2 ponto percentual (de +1,5% para +1,7%), motivada pela evolução da demanda doméstica maior do que a esperada recentemente e da melhora da perspectiva de parceiros comerciais relevantes. No caso específico da China, por exemplo, o PIB na referida janela não será de 4,2%, mas de 4,6%, causada pela majoração das despesas do governo com a prevenção de desastres naturais.
Apesar da diminuição da probabilidade de um quadro de “pouso forçado”, ou seja, de um desaquecimento abrupto do nível de atividade, é necessário atentar ao balanço entre os riscos de alta e de baixa. O primeiro embute vetores como: (1) rápida desaceleração dos preços, algo que aliviaria as condições financeiras; (2) queda menor do que a antecipada dos estímulos fiscais (às custas da contratação de débitos no curto prazo); (3) retomada da China; e (4) o impacto da utilização da Inteligência Artificial (IA). Já o segundo diz respeito ao encarecimento das commodities em função de eventos geopolíticos, incluindo os desdobramentos do conflito no Mar Vermelho, somado aos efeitos do fenômeno El Niño no campo climático. Ademais, uma provável perda de dinamismo na China puxada pelo setor imobiliário pode gerar frustrações.
Por fim, a inflação tende a seguir moderando (de 6,8% em 2023 para 5,8% em 2024) como resposta à continuidade da acomodação da energia após o choque provocado pela guerra entre Rússia e Ucrânia e aos sinais de arrefecimento da ocupação. Todavia, uma possível resiliência da deterioração do poder de compra das moedas exigiria esforço adicional por parte dos bancos centrais na condução da política monetária.