Relatório FOCUS: as últimas previsões para a economia brasileira
Previsões para o Brasil*
(Unidades: descritas na tabela)
Fonte: Banco Central do Brasil / Relatório FOCUS (01/12/2023) *Mediana. | Elaboração: AE/CDL POA.
PIB: os indicadores de atividade divulgados na semana passada referentes a outubro – geração de postos de trabalho formais, taxa de desocupação e volume de bens oriundos do parque fabril – não alteraram a estimativa para 2023 (estável em +2,84%). Já para 2024, a despeito da manutenção da projeção em +1,50%, a composição setorial acabou mudando. Por um lado, a agropecuária sofreu decréscimo (de +1,50% para +1,30%), enquanto a indústria (de +1,33% para +1,38%) e os serviços (de +1,75% para +1,80%) subiram. No tocante ao segmento primário, cremos que o viés é de baixa, pois a produtividade esperada para a safra de grãos 23/24 pela CONAB – balizador razoável para o PIB do agro – acusa retração de 1,9%. Caso o número esteja correto, teríamos diferença de -0,25 ponto percentual sobre o PIB total via impacto direto. Além disso, a demanda por transportes de carga diminuiria, afetando o ramo terciário.
IPCA: houve leve aumento do prognóstico em 2023 entre 24 de novembro e 1º de dezembro (de +4,53% para +4,54%). A modificação provavelmente ocorreu na esteira da prévia oficial dos preços de novembro (IPCA-15), cuja alta de +0,33% superou a expectativa do mercado coletada pela Reuters (+0,30%). Apesar da surpresa, dois recortes que procuram excluir grupos tipicamente voláteis, como alimentos e energia, continuaram apresentando dinâmica benigna: tanto a média dos núcleos de inflação e dos chamados serviços subjacentes desaceleraram novamente.
O destaque negativo ficou por conta do crescimento em alimentação no domicílio (+1,06%) após cinco quedas consecutivas. O incremento foi puxado pelos in natura (+4,57%), incluindo hortaliças, frutas, tubérculos e legumes. Acreditamos que esse é um dos grandes desafios em 2024, uma vez que a intensidade do fenômeno El Niño até outubro é a maior desde o período 2015/2016, de acordo com Climate Prediction Center. De todo o modo, o quadro geral dá tranquilidade para que o COPOM siga cortando a Taxa SELIC nas próximas reuniões.
Taxa de câmbio: entre as hipóteses capazes de explicar a revisão na cotação para o encerramento de cada ano (de R$ 5,00 para R$ 4,99 em 2023 e de R$ 5,05 para R$ 5,03 em 2024) está a declaração de Christopher Waller, membro do Federal Reserve (BC dos Estados Unidos). A manifestação do diretor não só consolida a crença de que o movimento de elevação de juros chegou ao fim, como deixa a porta aberta, dependendo do comportamento de um amplo conjunto de termômetros, à antecipação do ciclo de redução. Ainda assim, entendemos que o cenário para a flexibilização da política monetária americana no 1º semestre de 2024 não nos parece factível.
Análise do Novo CAGED – outubro de 2023
Os números representam as movimentações formais de celetistas, bolsistas, autônomos, dirigentes sindicais e funcionalismo público.
Brasil:
→ A diferença entre recrutamentos e demissões totalizou 190.366 em outubro;
• Dado superou não só o consenso entre os especialistas consultados pelo Valor Data (135.000 postos) como também o teto das previsões (175 mil);
• A referida estatística e o resultado da arrecadação de impostos federais – elevação real depois de quatro quedas ininterruptas no comparativo com os períodos correspondentes de 2022 – fornecem evidências de alguma melhora da atividade econômica nacional em outubro, ainda que possivelmente não muito significativa;
→ Embora a média móvel em 12 meses – métrica utilizada para capturar a tendência – tenha subido após seis decréscimos consecutivos (de +119,0 mil para 121,5 mil), temos o segundo nível mais baixo desde março de 2021;
Rio Grande do Sul:
O saldo de vagas no estado em outubro alcançou +10.766, acima, portanto, da leitura verificada em setembro (+790). Aqui é necessário chamar a atenção para a sazonalidade favorável em outubro, conforme a série histórica longa ajuda a mostrar (apesar da metodologia distinta). No caso do comércio, a categoria visa dar conta do aumento da demanda típico das festas no encerramento do ano. No tocante ao agro, trata-se do ciclo inerente às safras. Já para a indústria, pesa a característica intrínseca à fabricação de tabaco.
Saldo do CAGED – por CNAE 2.0 – Rio Grande do Sul
(em unidades)
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego. | Elaboração: AE/CDL POA.
Por sua vez, tivemos desaceleração no confronto com outubro de 2022. O quadro é corroborado pela PNAD: a taxa de participação – soma do contingente de pessoas ocupadas e dos que buscam ofício, mas sem sucesso – caiu de forma expressiva entre o terceiro trimestre de 2022 (65,8%) e o mesmo intervalo de 2023 (64,8%). Essa retração sinaliza que a atratividade do mercado de trabalho gaúcho diminuiu. Ademais, os termômetros dos setores secundário e terciário seguem acusando perda de ímpeto em decorrência, entre outros motivos, da política monetária que atua para frear o crescimento.
Saldo do CAGED – por CNAE 2.0 – Rio Grande do Sul
(em unidades)
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego. | Elaboração: AE/CDL POA.
Existem indícios de que as enchentes no Vale do Taquari em setembro continuaram provocando prejuízos ao ramo empreendedor da região em outubro. Em boa parte das 20 cidades que decretaram situação de calamidade houve destruição líquida de vínculos adicional.
Criação líquida de empregos formais nos municípios em calamidade – Rio Grande do Sul
(Em unidades e percentual)
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Decreto 57.197 do Governo do Estado do Rio Grande do Sul. | Elaboração: AE/CDL POA.
Por fim, o RS apresenta o pior desempenho entre todas as Unidades da Federação em 2023. A constatação deriva do cálculo da variação relativa, ou seja, a quantidade de mão de obra com carteira assinada incorporada em determinada janela como proporção do estoque inicial da respectiva localidade. Nossa alta somou +2,47%, bem distante, inclusive, da Paraíba (+3,81%) e do Brasil (+4,20%). Entre as causas prováveis do fenômeno estão as condições climáticas adversas, responsáveis por forte seca no início do ano e excesso de chuvas recentemente.