Pesquisa da CDL POA foi a campo investigar a vida financeira dos consumidores no último bimestre de 2022, os impactos econômicos dos eventos e as perspectivas para 2023
Neste ano, o já movimentado calendário do varejo no último bimestre foi incrementado com uma Copa do Mundo fora de época. Com resquícios de uma economia fragilizada no pós-pandemia, a CDL Porto Alegre foi a campo saber quais são as tendências de comportamento do consumidor para o período de eventos – Copa do Mundo, Black Friday e Natal – que mexem não só com o bolso, mas com as emoções dos brasileiros. A Entidade ouviu porto-alegrenses em estudo quantitativo e qualitativo realizado pela Vitamina Pesquisa. O material conta, ainda, com a análise econômica do Núcleo de Informações Econômicas da CDL POA.
Para saber em qual evento o consumidor pretende gastar mais, o Natal saiu de arrancada, com 73%, seguido do Réveillon (16%), da Black Friday (8%) e, na lanterna, a Copa do Mundo (3%). Já sobre a forma de consumir avança de acordo com a sua conveniência entre os canais de venda. Assim, 37% têm comprado mais online do que presencial; 35% compra mais presencial do que online e 28% dividem-se nas duas modalidades.
Segundo o presidente da CDL POA, Irio Piva, o clima festivo que acompanha as datas deve chegar aos setores de comércio, serviço e turismo como uma oportunidade única de comercialização acima da média para o período. “O ambiente promete ser positivo e de recuperação, frente a um longo período de recessão pós-pandemia e ao tensionamento pós-eleitoral”, aponta.
O Estudo mostrou que aquela bolada de fim ano, o 13º salário, já está sem fôlego para a prorrogação. Conforme a apuração, 44% da amostra não possui renda extra no 13º mês do ano. O percentual de 34% ainda deve receber a complementação, seguido por 17% que diz já ter recebido a primeira parcela e, uma pequena parte (4%) ainda receberá o montante extra na totalidade.
Sobre as perspectivas para o fim de ano, 55% se mostraram otimistas, 9% muito otimistas, 26% neutras (não tem expectativas), 8% pessimistas e 3% muito pessimistas. E, para 2023, 81% acreditam que será um ano melhor, 33% que será igual e 4% que será pior. Na avaliação do economista-chefe da CDL POA, Oscar Frank, o otimismo pode ser explicado pela melhora do mercado de trabalho e o alívio recente dos preços com a medida que determinou a redução do ICMS de bens e serviços considerados essenciais. Entretanto, ele pondera que estas medidas foram concebidas para terminar na virada de 2022 para 2023.
Mas a tradição do Natal é mesmo invicta. Em primeiro lugar, os entrevistados apontam que a celebração natalina é o evento de fim de ano mais importante de suas vidas. Seguido de Réveillon, Copa do Mundo e Black Friday. Na clássica pergunta: Qual o presente dos sonhos que você gostaria de ganhar neste Natal? Viagem saiu na frente, seguida por casa, celular, carro, moto, dinheiro, televisão, notebook, roupas e relógio. Também não faltaram pedidos de saúde e paz.
Copa do Mundo
Apesar de seu grande poder de mobilização, a pesquisa mostra que, quando se trata de consumo, a Copa do Mundo ainda está na segundona. Ou seja, 74% das pessoas ouvidas no estudo ‘Copa do Mundo, Black Friday e Natal: Quem ganha a atenção do consumidor?’, dizem que não pretendem investir em itens de decoração, vestuários e acessórios para o evento. Entretanto, há os que estão motivados, mesmo antes da abertura do placar do Mundial, é o caso de 14% que dizem ‘Talvez’ para a pergunta. Por fim, 12% validaram a intenção de consumo na Copa do Mundo.
Para o presidente da CDL POA, Irio Piva, o ineditismo do evento acontecer no último bimestre do ano – devido ao calor no Catar, foi transferido de julho para novembro – foi um motivador para este estudo. “Acredito que, com o avançar dos jogos e conforme o Brasil for conquistando vitórias, o impulso para o consumo deve aumentar, por isso é importante que o lojista esteja atento e preparado”, analisa. Mas o resultado da Copa pode influenciar nas suas compras de Natal? Ainda assim 89% dizem que ‘Não’, 7% ‘Talvez’ e 3% ‘Sim’.
Black Friday
A Black Friday caiu no gosto do consumidor brasileiro. Mas o estudo mostrou que o varejo precisa de gatilhos para seu impulsionamento, ou seja, é preciso acertar a jogada para que o varejo faça o gol. Boas e bem divulgadas ofertas são essenciais.
De acordo com o estudo, 63% já sinalizam que a Black Friday tem relevância no cenário de compras, dizendo que ‘Sim’ (28%) ou ‘Talvez’ (35%) para consumirem na data. Por outro lado, 37% dizem não ter interesse em comprar na Black Friday. “Ofereça produtos de alta demanda para atrair a atenção do público e garanta profundidade de estoque. Na Black Friday, o varejo tem que trazer ofertas reais, que tenham a capacidade de estimular a compra. O consumidor só vai comprar se valer a pena”, recomenda Piva para a data.
Gastos com o Natal
Sobre os gastos com as comemorações de fim de ano, o estudo aponta que a tendência é conservadora, explicada pela insegurança do cenário econômico. Portanto, 53% pretendem gastar o mesmo que em 2021; 33% acreditam que gastarão menos, e 14% devem gastar mais. Além da renda mensal, utilizada para as compras por 58% dos entrevistados, parte dos consumidores utilizará o crédito para compor seus gastos (45%), assim, os entrevistados pretendem pagar pelas compras de fim de ano com o salário do mês (58%), com o cartão de crédito (45%) – nos resultados da pesquisa de 2021, 30% disseram que pagariam no cartão de crédito –, 19% com o 13º salário, 3% no crediário, 1% com empréstimo familiar e menos de 1% obterão crédito em uma financeira.
Qual o emoji?
Considerando que o Brasil é um dos países que mais passa tempo na Internet e nas redes sociais, a CDL POA perguntou aos consumidores: Quem sai e quem fica nos seus grupos de WhatsApp diante de tantos assuntos que têm disputado a nossa atenção? No time do cartão vermelho estão: ‘Quem espalha fake news’ foi campeão na questão de múltipla escolha, com 61% dos votos; seguido por ‘quem envia correntes’ (59%), ‘quem discute sobre política’ (51%), ‘quem discute sobre futebol (29%), ‘quem envia áudios longos (24%) e, por fim, quem envia memes e piadas (11%). E, para fechar o estudo, a CDL POA quis saber:
Qual é o emoji que representa o final de 2022? Os mais votados foram:



Mais sobre o 13º salário
O estudo mostra ainda que ‘Pagar Dívidas’ foi o principal destino dos recursos adiantados do 13º salário, com 59%. Essa é a realidade da maior parte dos respondentes da Classe C, ou seja, a maioria dos brasileiros. ‘Realizar Compras’ (24%), ‘Poupança’ (23%), ‘Viagem’ (6%) e ‘Outros’ (1%) vieram na sequência. E, para quem ainda não recebeu o recurso extra, as dívidas também são o principal destino do dinheiro, pois 63% destinarão o 13º para a ‘Quitação de Débitos’. As pessoas também pretendem ‘Realizar Compras’ (27%), ‘Viajar’ (17%), ‘Poupar’ (17%) e ‘Não Sabem’ (2%). As perguntas de múltipla escolha justificam a soma das porcentagens ultrapassarem 100%.
A maioria dos respondentes afirma gozar de uma saúde financeira estável, porém sem sobras e, consequentemente, com o orçamento justo para destinar em demandas extras de final de ano. Dos entrevistados, 51% consideram sua situação financeira ‘Estável’, ou seja, não deve, mas não sobra. Já 24% considera ‘Boa’, consegue pagar as contas e guardar um pouco; ‘Precária’ 22% e ‘Excelente’ 3%.
O tom otimista aparece na questão ‘Como você imagina que estará sua vida financeira no próximo ano?’ Porque 49% se imaginam ‘Sem Dívidas’ (ou com elas regularizadas); 24% pretendem ter pelo menos parte das dívidas regularizada; 20% querem estar sem dívidas e com mais dinheiro, e 6% acreditam que estarão com mais dívidas. Segundo o economista, o esforço para quitar os débitos diz respeito ao fato de que o serviço das dívidas contratadas (juros e amortizações) tem pesado cada vez mais nos orçamentos das famílias brasileiras ao longo dos últimos meses. De acordo com o Banco Central, houve crescimento de 21% em julho de 2020 para 29% em julho de 2022: recorde da série histórica iniciada em março de 2005. O ciclo de elevação da Taxa Selic colaborou para o fenômeno, ao encarecer os empréstimos e financiamentos.
Situação Financeira
A CDL POA quis saber como as pessoas pretendem melhorar sua situação financeira em 2023. Empreender, para buscar uma nova fonte de receita foi a opção de 37% dos participantes. Já 21% pretendem mudar de emprego ou conquistar um aumento; 19% não têm intenção de mudar nada; 17% realizar investimento; 3% fazer empréstimo. Para Frank, o lado da receita representa um componente fundamental nessa conta, e entendo que os consumidores podem (e devem!) pensar em alternativas para monetizar algum talento próprio.
Inadimplência
Na tentativa de recuperação e estabilidade financeira, ainda com reflexos de um ano pós-pandemia, os dados apontam uma lenta mudança na tentativa de recuperação da estabilidade financeira e 60% apontam que não possuem, atualmente, contas em atraso, em oposição a 39% que afirmam estar com débitos em aberto. Ainda, 59% não pegaram empréstimos em 2022, e 41% afirmam ter buscado dinheiro emprestado para alguma demanda.
A pesquisa se alinha ao Indicador de Inadimplência da CDL Porto Alegre, que mostra o percentual de pessoas físicas com restrição em crédito, cheque ou protesto subindo desde o começo do levantamento, em fevereiro de 2022.
Comportamento de compra e inflação
Ao serem questionados sobre seu comportamento de compra em 2022, 53% dos entrevistados disseram ter mantido o mesmo em relação aos anos anteriores. O contingente de 33% reduziu suas compras neste ano, e 14% compraram mais do que o habitual nos anos anteriores. Para explicar estes dados, a pesquisa relacionou as respostas com o extrato social dos respondentes e como eles vêm suportando o atual cenário econômico. Segundo o economista-chefe da CDL POA, a inflação afeta proporcionalmente menos a camada mais rica da população, cuja condição financeira permite o investimento em ativos que geram proteção contra a perda do poder de compra da moeda (como títulos públicos atrelados ao IPCA, por exemplo).
Mais sobre a Copa
O estudo mostra, ainda, que 58% dos pesquisados deverão assistir aos jogos em Casa; 11% em Bares e Restaurantes; 9% no trabalho. Entretanto, 21% não pretendem acompanhar os jogos e 1% não sabem.
Mais sobre a Black Friday
Na ocasião do estudo, 16% dos respondentes já estavam pesquisando produtos que pretendem comprar na Black Friday, 62% ainda não tiveram este interesse e 22% disseram que não iniciaram as buscas, mas que pretendem fazê-la. Mas será que o consumidor pretende adiantar as compras do Natal na Black Friday? Para 53% a resposta é ‘não’. Por outro lado, o ‘talvez’ (34%) e o ‘sim’ (13%), somam 47% de pessoas que já demonstram intenção de planejamento das compras, considerando a proximidade entre as datas. Aumento de 8.2 pontos percentuais se comparado com a pesquisa da CDL POA de 2021, cujo percentual nesse item apontava que 39% pretendiam aproveitar a Black Friday para antecipar compras de Natal.
Baixe o estudo completo clicando aqui.