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JANEIRO, 2021
Relatório FOCUS: as últimas previsões para a economia brasileira
Produto Interno Bruto: o prognóstico para 2021 saiu de +3,45% para +3,49% ao longo dos últimos sete dias. Entendemos que essa correção foi determinada pelo Índice do Banco Central (IBC) de atividade econômica de novembro de 2020, cujo resultado em comparação com outubro (+0,59%), na série com ajuste sazonal, superou o consenso do mercado (+0,5%). De acordo com a nossa avaliação, surpresas negativas para o PIB são bem mais prováveis em relação às positivas. Entre as razões que sustentam a tese estão: (1) a piora sanitária e as restrições impostas aos negócios para frear o avanço da pandemia; (2) o impacto do término do auxílio emergencial sobre os rendimentos; (3) potencial lentidão no processo de imunização da população; (4) incertezas a respeito das contas públicas.
Preços e Taxa SELIC: o IPCA calculado para 2021 passou de +3,43% para 3,50%. É possível que a motivação seja o IGP-M do segundo decênio de janeiro (+2,37%, contra 1,18% no mesmo período do mês anterior), a partir da aceleração de itens primários. Em decorrência da redução da margem para o atingimento dos 3,75% definidos para 2021, os agentes revisaram a perspectiva para a Taxa SELIC no encerramento de 2021 (de 3,25% para 3,50% ao ano). Além disso, o valor projetado para o fechamento de 2022 também subiu: 4,75% para 5,00% ao ano.
Fiscal: o aumento das contaminações pela COVID-19 suscita debates no campo político em torno de uma eventual extensão do coronavoucher. O desafio será conciliar o benefício sem ferir o Teto dos Gastos. Para tanto, uma solução razoável envolve a aprovação da PEC Emergencial, responsável por criar gatilhos de contenção de despesas toda a vez em que alguns limites forem ultrapassados.
A interpretação do Comitê de Política Monetária acerca do panorama
Cenário internacional: o recrudescimento do coronavírus afetará desfavoravelmente o crescimento global no curto prazo. Porém, a vacinação e novas medidas de estímulo apoiarão a retomada no médio prazo.
Quadro doméstico: embora o ritmo da recuperação tenha surpreendido para cima no final de 2020, os indicadores oficiais ainda não mostram as consequências da onda vigente de infecções. As dúvidas no tocante à evolução da renda e do emprego permanecem notáveis sem o amparo estatal.
O COPOM vê que a alta das commodities, e sua influência sobre importantes grupos, como alimentos e combustíveis, está causando a incremento das expectativas. A despeito da persistência maior do que a esperada no primeiro momento, a leitura é de que o choque é transitório. Conforme a simulação do BC, as metas inflacionárias serão cumpridas em 2021 e 2022.
Outra mensagem relevante no comunicado da reunião foi a retirada do “pacto” formado com a sociedade, no sentido de manter o nível corrente dos juros básicos (2,00% ao ano) por um vasto intervalo de tempo. Cremos que o fim da chamada “prescrição futura” abre espaço para o início do ciclo de elevação em breve, mas que não será deflagrado no próximo encontro, em março.
COPOM mantém a Taxa SELIC em 2,00% ao ano
Observação: relatório escrito antes da decisão.
Comentários a respeito do panorama:
Atividade econômica doméstica: indicadores de curto prazo mostram que a recuperação prosseguiu. Entretanto, a ociosidade permanece grande: são praticamente 10 milhões de pessoas desempregadas frente a igual período de 2019. Ainda do ponto de vista da renda, a União não renovou o auxílio emergencial e o programa de preservação dos vínculos trabalhistas, o que configura um impulso consideravelmente inferior à demanda. Da mesma forma, em função da piora sanitária, algumas localidades endureceram as restrições ao funcionamento dos negócios, incluindo São Paulo.
Preços: o IPCA em dezembro (+1,35%) surpreendeu o consenso de mercado (+1,22%). Oitenta porcento dessa alta foi causada por “alimentos e bebidas”, “transportes” e, principalmente, “habitação”, fruto do encarecimento da energia elétrica (+9,34%). Por um lado, os indícios de retomada lenta e gradual, bem como a acomodação do choque sobre o Dólar e as commodities são aspectos benignos no balanço de riscos. Já a incerteza determinada pela questão fiscal caracteriza uma severa ameaça.
Conjuntura internacional: o Partido Democrata conseguiu o domínio das duas casas do Congresso americano. Tal fato reforça a possibilidade de aprovação de um pacote relevante para alavancar o PIB dos Estados Unidos. No tocante à Europa, os lockdowns impostos em diversos países resultarão em queda do produto entre janeiro e março de 2021 (-1,0%, conforme o Itaú). Contudo, a perspectiva para os intervalos de tempo seguintes é positiva. Por sua vez, a China cresceu +2,3% em 2020. A tendência para os próximos meses é de um “pouso suave”, a partir da retirada paulatina dos estímulos para mitigar eventuais desequilíbrios.
Taxa de câmbio: as oscilações recentes exprimem as estatísticas do coronavírus, a evolução do processo de vacinação e a situação das contas públicas. Entendemos que, dados os fundamentos atuais, o Real está subvalorizado em comparação com a moeda dos EUA, e que, salvaguardado o Teto de Gastos, a cotação se tornará mais apreciada. Todavia, indefinições no âmbito interno e externo podem alongar essa convergência.
Fiscal: a revisão para cima do PIB em 2017, 2018 e 2019, a arrecadação superior à esperada e a despesa aquém da estipulada no “orçamento de guerra” forneceram certo alívio para o quadro. Porém, o cenário é desafiador, uma vez que o espaço para novos dispêndios segue muito enxuto. Pelo contrário: o Executivo vai ter de se deparar com a necessidade de promover contingenciamentos para cumprir com a Constituição.
Parecer da Assessoria Econômica da CDL-POA: a despeito das pressões inflacionárias, acreditamos que o COPOM opte por manter a Taxa SELIC em 2,00% ao ano.
Avaliação do Índice do Banco Central (IBC) de novembro de 2020
Definição: o IBC é formado por indicadores de curto prazo da produção (oferta), do mercado de trabalho, entre outros. Trata-se de uma aproximação (proxy) do PIB, ou seja, é um termômetro da atividade econômica. A tabela abaixo sintetiza os números do IBC de novembro do ano passado. São cinco comparativos, sendo que o último (nov20 / fev20) configura a diferença em relação ao patamar verificado antes do início do distanciamento social.
Brasil: a retomada diminuiu de intensidade em novembro (+0,6%), de modo que essa foi menor taxa desde o auge da crise, em abril. Entendemos que a redução do ímpeto do crescimento é uma reação natural decorrente da recomposição de boa parte das perdas gerais: 8 dos 13 estados investigados, inclusive, estão com níveis superiores a fevereiro. Componente também relevante para a desaceleração foi a queda do estímulo fiscal promovido pelo governo para atenuar a recessão.
Rio Grande do Sul: permanecemos com o pior desempenho no acumulado entre janeiro e novembro (-5,2%) entre todas as Unidades da Federação. Além da pandemia, arcamos com os prejuízos de uma severa estiagem, atingindo principalmente as culturas do milho e a soja. Por consequência, a cadeia conexa ao agronegócio foi duramente impactada.
Conforme as estatísticas do IBGE, é possível constatar que os setores secundário e terciário contribuíram positivamente para a expansão no penúltimo mês de 2020 no território nacional. No caso gaúcho, os serviços e a indústria subiram, enquanto o varejo encolheu.