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FEVEREIRO, 2021
Relatório FOCUS: as últimas previsões para a economia brasileira
O cenário trazido pelos agentes de mercado piorou notadamente ao longo da última semana. Boa parte desse movimento aconteceu na sexta-feira (19), quando Jair Bolsonaro anunciou: (1) a desoneração de impostos federais para o gás de cozinha por tempo indeterminado; (2) a redução das alíquotas de PIS/COFINS para zero por dois meses no diesel; (3) modificações na Petrobras, que culminaram com a demissão de Roberto Castello Branco.
Entendemos que o recrudescimento de eventuais ingerências nas estatais pode minar a credibilidade dos investidores no tocante à atração de recursos, com prejuízos para o crescimento. Sinalizam também para a atrofia da agenda de reformas, a despeito da manifestação do presidente da Câmara, Arthur Lira, de que temas como a PEC Emergencial, Pacto Federativo e orçamento sem vinculações de receita tramitarão em breve.
Produto Interno Bruto: a estimativa para 2021 caiu de +3,41% para +3,29%, no menor patamar desde 09 de novembro de 2020 (+3,28%). Apesar do monitor do PIB da FGV ter mostrado avanço de +1,0% da atividade em dezembro sobre novembro do ano passado, e de +3,4% no quarto trimestre de 2020 frente ao terceiro – números corrigidos pela sazonalidade –, o indicador antecedente, construído em parceria com o The Conference Board, apresentou recuo de 1,0% em janeiro ante o período imediatamente anterior. Dos oito componentes, seis contribuíram negativamente para o agregado, com destaque para os Índices de Expectativa da Indústria e dos Consumidores.
Além da situação delicada de muitas empresas e das restrições adicionais ao funcionamento dos negócios em virtude do agravamento do quadro sanitário em diversas localidades, a demanda se encontra enfraquecida por conta do emprego deteriorado e da cessação das políticas de suporte aos rendimentos das famílias.
Inflação e Taxa SELIC: o IPCA calculado para 2021 foi de +3,62% para 3,82%, superando a meta de 3,75% estabelecida para o presente ano. Cremos que a persistência da pressão no IGP-M no segundo decênio de fevereiro (+2,37%), especialmente no atacado (+2,98%), ajuda a explicar essa mudança. Se, por um lado, a provável prorrogação do auxílio emergencial, ainda que focalizado, atuará para sustentar parcialmente a renda, a desaceleração do PIB é capaz de amenizar a contaminação do valor dos serviços, por outro.
Diante do panorama, espera-se agora que a Taxa SELIC encerre 2021 não mais em 3,75% ao ano, mas 4,00%: segundo incremento consecutivo. O ciclo ascendente deve começar somente na reunião do COPOM de maio (+0,5 ponto percentual). Todavia, em função do momento corrente, não descartamos que os juros subam já a partir do mês que vem, graças à amplificação relevante do risco de que a inflação fique acima do objetivo definido pelo Conselho Monetário Nacional, embora dentro do intervalo de tolerância.
Atividade do setor privado no Brasil cai em janeiro
O Índice de Gerentes de Compras (PMI) é fruto de uma sondagem qualitativa realizada junto a centenas de empresas instaladas no território nacional. Seu intuito é fornecer um termômetro a respeito do comportamento da economia. De acordo com a metodologia adotada, os 50 pontos representam a neutralidade. Logo, valores superiores denotam expansão frente ao período imediatamente anterior, e vice-versa. O objeto de análise do presente relatório é o PMI Consolidado da Produção, que conjuga a dinâmica da indústria e dos serviços (sem o varejo).
Depois de cinco altas consecutivas, a variável alcançou 48,9 pontos em janeiro, o que significa retração ante dezembro de 2020 na série com ajuste sazonal. Enquanto o ramo secundário cedeu de 61,5 para 56,5 pontos (menor nível desde junho do ano passado), o terciário moveu de 51,1 para 47,0 pontos, encolhendo, pela primeira vez, em cinco meses.
Avaliação dos componentes do PMI:
- Novos pedidos: primeira diminuição em seis meses;
- Emprego: tendência similar à verificada no índice geral;
- Custos médios de insumos: permaneceram em ascensão.
- Preços de venda: desaceleraram para o patamar mais baixo em quatro meses, mas seguem pressionados;
- Otimismo sobre o futuro: abrandou.
Comentários: acreditamos que uma conjunção de elementos foi responsável pela guinada no PMI. Diversas políticas de suporte à demanda e à oferta disponibilizadas pelo governo federal para amenizar os impactos da pandemia, por exemplo, não foram renovadas. O efeito no curto prazo foi alavancado pelas restrições adicionais ao funcionamento dos negócios em distintas localidades, por conta da piora do quadro sanitário. Chama a atenção também o fato de que, apesar do início de recuperação, o mercado de trabalho apresenta enorme deterioração.
IPCA sobe +0,25% em janeiro de 2021
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Brasil avançou +0,25% em janeiro. Apesar da intensificação ante o mesmo período de 2020 (+0,21%), essa foi a segunda menor taxa para o mês na história do Plano Real, permanecendo bem aquém da mediana entre 1999-2020 (+0,58%), ou seja, no intervalo de tempo marcado pelo Regime de Metas para a Inflação. Vale ressaltar que a estatística oficial do IBGE veio inferior ao consenso do Relatório FOCUS, do Banco Central (+0,30%) e das 5 instituições de maior assertividade nas suas projeções (+0,34%).
Dos nove grandes recortes, sete registraram variação positiva. A principal influência, responsável por 88% da alta do indicador, foi “alimentação e bebidas” (+1,02%), mas “transportes” (+0,41%), “despesas pessoais” (+0,39%) e “saúde e cuidados pessoais” (+0,32%) também pressionaram a variável. “Habitação”, ao contrário, teve deflação de -1,07%, o que retirou 0,17 ponto percentual do resultado final.
Entendemos que o comportamento da parcela mais atrelada à atividade já reflete a transição abrupta experimentada pela economia com o fim dos programas de sustentação da renda e do emprego oferecidos pelo governo federal em 2020, acarretando o enfraquecimento da demanda. Os serviços, por exemplo, cresceram apenas +0,07%: mínimo da série, criada em 1992.
Por outro lado, as commodities agrícolas (e suas derivações) continuam apresentando ganhos devido: (1) à entressafra; (2) à depreciação cambial, que incentiva a comercialização com o exterior; (3) ao nível deprimido de estoques globais; e (4) aos problemas climáticos em locais como o Brasil e a Argentina. Ademais, o barril de petróleo, matéria prima dos combustíveis, persiste em trajetória ascendente por conta da manutenção de uma oferta reduzida da OPEP+ e da expectativa de recuperação mundial.
IPCA da Região Metropolitana de Porto Alegre: +0,25% em dezembro, coincidindo com a média nacional. Foi o sexto menor número entre as 16 localidades averiguadas pelo IBGE. Nos últimos 12 meses, a variação na RM de POA totalizou +4,30%.