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NOVEMBRO, 2020
Relatório FOCUS: as últimas previsões para a economia brasileira
PIB: o tamanho da recessão computado em 2020 passou de -4,80% para -4,66% ao longo dos últimos sete dias. Entendemos que a “despiora” provavelmente esteja atrelada ao Índice do Banco Central (IBC) – termômetro da atividade nacional – de setembro: +1,29% sobre agosto, na série com ajuste sazonal, acima do antecipado pelos especialistas sondados pela Reuters (+1,0%).
Para 2021, a estimativa seguiu em +3,31%. Se a produção no terceiro e quarto trimestres de 2020 aumentar, respectivamente, entre +9,0% e +9,5% e entre +2,0% e +3,0% frente aos períodos imediatamente anteriores, conforme aguardado por certas instituições financeiras, o crescimento contratado para o ano que vem é entre +3,2% e +4,2%. Esse é o chamado “efeito carregamento” – variação registrada caso o nível de renda encerre 2021 no mesmo patamar do fim de 2020 –, servindo como um balizador para os números.
Acreditamos que um dos vetores prevalecentes da retomada será a migração do consumo, com base na moderação do ritmo de aquisição de bens, enquanto os desembolsos com serviços retornam paulatinamente. A hipótese subjacente, portanto, é de flexibilizações adicionais ao funcionamento dos negócios, contribuindo, sobretudo, com as categorias que mais dependem de interação humana.
Uma das ameaças ao cenário é o não endereçamento das reformas, particularmente no campo fiscal. Uma possível segunda onda de COVID-19 também pode deteriorar os prognósticos.
Preços: o IPCA sofreu novas correções para 2020 (de +3,20% para +3,25%) e em 2021 (de +3,17% para +3,22%). Cremos que a prévia do IGP-M de novembro colaborou com o movimento: no decênio inicial, houve incremento de +2,67%, com pressão das matérias-primas brutas e dos intermediários.
A percepção de grande parte dos analistas é de que os choques de oferta (commodities, câmbio e desorganização das cadeias) e demanda (transferências de recursos) se dissiparão gradualmente nos primeiros meses de 2021, de modo a reduzir significativamente o avanço dos indicadores. Após a estabilização, o que contará para a dinâmica inflacionária é a capacidade dos empresários em repassar seus custos para a ponta final. Todavia, o fato da crise ter afastado 11,5 milhões de pessoas de suas ocupações, entre formais, informais e por conta-própria, representa um limitador relevante.
Taxa SELIC: dado que a ociosidade permanece enorme e as regras de gestão responsável do erário não foram alteradas, o Banco Central continuará lançando mão de uma política monetária expansionista, ao manter os juros historicamente deprimidos. Embora a tendência seja de alta a partir de setembro de 2021, o grau de ajuste deve ser lento, beneficiando, essencialmente, setores mais ligados ao crédito, incluindo o ramo imobiliário e de veículos.
Taxa de câmbio: de acordo com os modelos estruturais, a cotação encontra-se desvalorizada em comparação com os fundamentos de equilíbrio. Além da incerteza com o quadro sanitário, pesam desfavoravelmente as perspectivas no tocante à trajetória de endividamento governamental.
Resultado primário: as discussões envolvendo programas sociais, a PEC Emergencial – encarregada de regulamentar os gatilhos automáticos de cortes de despesas depois do atingimento de determinados marcos – e a reforma tributária são algumas das questões mais importantes.
Análise da emissão de Notas Fiscais Eletrônicas do RS até 30 de outubro de 2020
Introdução e metodologia: as estatísticas referentes à expedição de Notas Fiscais Eletrônicas (NFe’s) podem ser usadas para muitos fins, como o monitoramento do nível de atividade. Todas as variações correspondem às cifras de 2020 ante período equivalente de 2019. Ademais, optou-se pelo deflacionamento através do IPCA – embora saibamos que os itens têm mudanças diferenciadas de preços.
Total da economia: as quinzenas relativas a outubro exibiram taxas de crescimento inéditas desde o início do distanciamento social no Rio Grande do Sul: +15% e +11%, pela ordem. Entendemos que o alívio do quadro sanitário, que viabilizou flexibilizações complementares aos negócios, é um dos componentes que ajuda a explicar esse resultado. Após praticamente 4 meses de avanços ininterruptos, o acumulado entre 16 de março até o último dia de outubro alcançou -1%. Por essa métrica, o estado está próximo de devolver as perdas oriundas das medidas de restrição ao fluxo de pessoas, impostas para tentar controlar a COVID-19.
Aqui, especificamente, dois comentários são necessários: (i) não há comparação direta entre as NFe’s e o PIB, pois enquanto as primeiras fornecem uma ideia sobre a evolução da movimentação financeira dos empreendimentos, o segundo diz respeito ao montante adicionado em cada etapa da cadeia; e (ii) a procura, incluindo o consumo das famílias, os investimentos e o governo, também compra de outros estados e fora do Brasil. Logo, ainda que parcial, o retrato do levantamento é bastante válido.
Abertura dos dados: a alta recente foi puxada, fundamentalmente, pela indústria, que registrou os maiores aumentos desde meados de março: +26% e +21% nas respectivas quinzenas de outubro. Tivemos bebidas, tratores e implementos agrícolas, madeira, cimento e vidro, móveis, e máquinas e equipamentos entre os ramos com impacto importante.
Apesar do ritmo inferior, o varejo igualmente apresentou recordes nas quinzenas de outubro: +11% e +6%. As contribuições positivas relevantes entre os dias 17 e 30 ficaram ao encargo de Supermercados (+11,8%), Material de Construção (+33,7%), Lojas de Departamento e Magazines (28,6%), Eletroeletrônicos (+16,8%) e Móveis (+22,5%). Já as divisões que exerceram influências baixistas foram Vestuário (-4,5%) e Combustíveis (-4,3%).
O destaque negativo foi o atacado (+2% e -1%). Cremos que as pressões de custos, manifestadas nos índices de inflação para os produtores, prejudicam o segmento.
Além disso, é possível confrontar as empresas compreendidas no regime do Simples Nacional e da categoria geral. O primeiro grupo, cujo faturamento é de até R$ 4,8 milhões anuais, vem desempenhando aquém do seu par. Acreditamos que esse fenômeno está ligado às dificuldades inerentes de uma escala reduzida de operação, englobando as reservas de caixa, de capital humano, et cetera.