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JANEIRO, 2021
Relatório FOCUS: as últimas previsões para a economia brasileira
Produto Interno Bruto: o prognóstico para 2021 subiu de +3,40% para +3,41% ao longo dos últimos sete dias. Informações complementares mostram que o grau de incerteza embutido nas projeções é bem mais alto em relação às expectativas para 2020 antes do isolamento social.
Apesar da existência de alguns vetores benignos, cremos que surpresas negativas para o nível de atividade são mais razoáveis do que as positivas, por conta de dois fatores primordiais: (1) ausência de margem de manobra para a adoção de políticas públicas para alavancar a renda e o emprego; e (2) os obstáculos na promoção de reformas complexas, como a administrativa e a tributária.
Inflação: o IPCA calculado para 2021 passou de +3,32% para 3,34% – aquém da meta de +3,75% definida para o presente ano. A perspectiva de devolução lenta e gradual das perdas, aliada à acomodação dos choques sobre os valores de determinados itens ainda no calendário 2020, incluindo matérias primas e a energia elétrica, ajudam a explicar o fenômeno.
SELIC: houve aumento de 3,00% ao ano (a.a.) para 3,25% a.a. no cômputo para o término de 2021, e de 4,50% a.a. para 4,75% a.a. no encerramento de 2022. Mesmo que as estimativas para o câmbio sigam inalteradas, entendemos que a dinâmica recente de fortalecimento do Dólar frente ao Real, que saiu de aproximadamente R$ 5,20 para R$ 5,40, seja uma provável causa. A hipótese subjacente é de que esse patamar elevado possivelmente perdure por mais tempo, encarecendo a aquisição de importados e restringindo a concorrência com os similares nacionais, o que pressionaria o IPCA para cima.
O movimento da cotação coincide com o resultado das eleições americanas para o Senado na Geórgia. Agora, o Partido Democrata controla todo o Congresso. A avaliação é de que estímulos adicionais sejam aprovados em comparação com a configuração anterior, o que permitiria ao Estados Unidos crescer em ritmo superior no curto prazo, atraindo, assim, capitais de outras partes do planeta.
A interpretação do Banco Central acerca do cenário
Os analistas do órgão reduziram o acréscimo do PIB global em 2021: de +4,2% para +4,0%. Tal revisão pode ser atribuída à retomada mais tardia do que a esperada para os países desenvolvidos (de +3,9% para +3,3%), em função dos lockdowns adotados pela Europa e pelos Estados Unidos para refrear a COVID-19. Além disso, a correção não compensou o progresso para os emergentes (+4,4% para 5,0%).
Conforme os apontamentos no documento Global Economic Prospects, a vacinação é fundamental para limitar a dependência da emissão de dívida governamental. A tendência é de recuperação moderada, a partir dos desafios impostos pelos débitos acumulados em 2020 e pela questão sanitária.
No caso do Brasil, a queda antevista para o PIB em 2020 foi de -5,4% para -4,5%, enquanto o incremento para 2021 permaneceu em +3,0%. A melhora da confiança na ponta final e as condições favoráveis ao crédito puxarão a demanda doméstica. Porém, os serviços devem, novamente, avançar menos do que a indústria, refletindo certa aversão ao risco das famílias.
Entre as ameaças para a concretização do cenário estão a persistência da pandemia, dificuldades na obtenção de financiamentos dos déficits da União e a eventual piora do sentimento dos empresários.
Incerteza cai em dezembro, mas permanece alta no Brasil
O Indicador de Incerteza da Economia da FGV mede, periodicamente, o grau de imprevisibilidade na tomada de decisão da parte dos agentes. De acordo com o arcabouço empregado, o ideal é que os valores estejam abaixo de 100 pontos: nesse cenário, eventuais indefinições sobre o futuro não prejudicam a dinâmica de expansão da renda.
Na passagem de novembro para dezembro, houve queda de 3,5 pontos, de modo que 2020 encerrou com 142,3 pontos. Entendemos, por um lado, que o início do processo de imunização da população contra a COVID-19 em alguns países e a continuidade da retomada impulsionaram essa “despiora”. Por outro, as dúvidas a respeito da renovação do auxílio emergencial e dos demais programas do governo para amenizar o impacto da pandemia em 2021, além da falta de ações concretas no tocante ao equilíbrio fiscal, impediram com que o resultado fosse melhor. Como as informações foram coletadas até o último dia 25, não foi capturado o efeito do anúncio do fim do coronavoucher e da não extensão das medidas de preservação dos postos de trabalho.
O nível do índice, todavia, segue 27,2 pontos acima de fevereiro – antes da imposição do isolamento social no Brasil –. Para que se tenha uma ideia do estágio da deterioração, a leitura ainda supera em 5,5 pontos o pico anterior máximo, verificado em setembro de 2015, numa época marcada pela crise política e pela forte recessão.
Metodologia e comentários: a variável contempla dois componentes: (1) menções à palavra “incerteza” (e de suas derivações) na mídia impressa e online, com peso de 80%; e (2) a dispersão das projeções das instituições participantes do Relatório FOCUS, do Banco Central, para a taxa de câmbio, Taxa SELIC e o IPCA, com importância de 20%. O primeiro membro encontra-se aquém das estatísticas internacionais comparáveis, porém a distância não é tão relevante. Já o segundo aumentou mais, mesmo em um patamar elevado.
Atividade do setor privado no Brasil sobe em dezembro
O Índice de Gerentes de Compras (PMI), criado pela IHS Markit, é fruto de uma sondagem qualitativa realizada junto a centenas de empresas instaladas no território nacional. Seu intuito é fornecer um termômetro a respeito do comportamento da economia. Visto que sua divulgação ocorre poucos dias após o fechamento do mês de referência, é possível obter sinais importantes sobre eventuais mudanças no ciclo, o que constitui uma vantagem em virtude da defasagem de tempo nas estatísticas comparáveis.
De acordo com a metodologia adotada, os 50 pontos representam a neutralidade. Logo, valores superiores denotam expansão frente ao período imediatamente anterior, e vice-versa. O objeto de análise do presente relatório é o PMI Consolidado da Produção, que conjuga a dinâmica da indústria e dos serviços (sem o varejo). Ambas as grandes categorias são ponderadas pelo seu peso no PIB, medido pelo IBGE.
A variável alcançou 53,5 pontos, o que significa crescimento ante novembro na série com ajuste sazonal, porém numa velocidade menos intensa do que a verificada na penúltima leitura (53,8 pontos). Trata-se, portanto, da quinta alta consecutiva. Enquanto o ramo secundário desacelerou de 64,0 para 61,5 pontos, o terciário passou de 50,9 para 51,1 pontos. Nesse segundo caso, os respondentes apontaram como fatores benignos: (1) perspectivas no tocante à imunização da população contra a COVID-19; (2) melhores condições de demanda; e (3) reabertura de alguns dos negócios.